Tratado geral das grandezas do ínfimo — Manoel de Barros


A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei.

Meu fado é o de não saber quase tudo.

Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado.
Sou fraco para elogios.


Manoel de Barros

Hélio

                                       
    O hélio vem das partículas alfa emitidas pela desintegração radioativa. Os locais que contêm muito minério de urânio, o gás natural tende a conter elevadas cncentrações de hélio, alcançando até 7%. A desintegração do urânio emite várias partículas alfa e um bolsão de gás natural tende a ser um recipiente selado no subsolo. O hélio é destilado criogenicamente a partir de gás natural para produzir o hélio que se coloca em balões.
    Quando você coloca hélio em um balão e o solta, ele vai subir até estourar e, quando ele estoura, o hélio que escapa não para, prosseguindo e vazando para o espaço.

Furacão, tufão, ciclone ou tornado?

    Trata-se do mesmo fenômeno apesar de terem tantos nomes. O furacão se forma no mar e se movimenta pela superfîcie do oceano, agitando as águas do fundo, chegando a devastar cidades inteiras. O ciclone ou tufão (depende da região) é o nome genérico para uma massa rodopiate de nuvens que giram em um local onde o ar quente se elevou e foi substituído pelo ar frio das proximidades. O tornado ocorre em terra firme, ficando longe do mar; e ele é formado por uma forte coluna de ar em rotação, na qual se estende da base de uma nuvem de chuva até o chão.    

Escala Celsius

                                                 Resultado de imagem para anders celsius

   A escala termométrica mais conhecida é a celsius. Foi criada pelo astrônomo sueco Anders Celsius, em 1742. Celsius usou uma escala de 0 a 100 e se baseou no ponto de fusão do gelo (0 ºC) e na ebulição da água (100 ºC).

                                                 
    Diante da sua simplicidade, a escala ficou definida pelos cientistas como a escala padrão para medir temperatura e até os dias de hoje ela é usada. Essa determinação é imprescindível para a ciência, pois facilita a compreensão dos resultados e atroca de informação entre os pesquisadores de todo o mundo.


Ano-luz

    O ano-luz é a unidade de distância percorrida pela luz em um ano. É usado pelos astrônomos, por meio de um telescópio, para olhar as estrelas ou outros corpos que possuem uma enorme distância da Terra.
     A primeira vez que a velocidade da luz foi delimitada foi em 1675, pelo astrônomo dinamarquês Olaus Roemer (1644-1710), que mediu o intervalo entre sucessivos eclipses da lua e de Júpiter para diversos pontos da órbita terrestre. Esse tipo de distância não pode ser medido por milhas ou quilômetros, pois os números ficariam grandes demais, aí se usa esse tipo de unidade (ano-luz), sem contar que essa medida também ajuda a determinar a idade dos objetos astronômicos.


Júpiter



    Ele é o gigante do Sistema Solar com 63 satélites identificados. Esse planeta é tão grande que se fosse oco, dentro dele caberiam mais de 1.300 planetas Terra ou todos os outros. É composto por Hélio, 85% de hidrogênio e seu núcleo é muito quente, liberando para o universo três vezes mais energia do que recebe do Sol - só não é uma estrela porque o número de massa não é suficiente para elevar a temperatura e a pressão dos gases a ponto de produzir elevadas reações nucleares.
 
    Júpiter poderia ser considerado um "mini-sistema-solar", pelo fato de ter muitos corpos que são controlados pela sua gravidade, como cometas e luas.

Ainda que mal - Carlos Drummond de Andrade


Ainda que mal pergunte,
ainda que mal respondas;
ainda que mal te entenda,
ainda que mal repitas;
ainda que mal insista,
ainda que mal desculpes;
ainda que mal me exprima,
ainda que mal me julgues;
ainda que mal me mostre,
ainda que mal me vejas;
ainda que mal te encare,
ainda que mal te furtes;
ainda que mal te siga,
ainda que mal te voltes;
ainda que mal te ame,
ainda que mal o saibas;
ainda que mal te agarre,
ainda que mal te mates;
ainda assim te pergunto
e me queimando em teu seio,
me salvo e me dano: amor.

(Carlos Drummond de Andrade)

Tempo de amor - Vinícius de Moraes


Ah, bem melhor seria
Poder viver em paz
Sem ter que sofrer
Sem ter que chorar
Sem ter que querer
Sem ter que se dar

Ah, bem melhor seria
Poder viver em paz
Sem ter que sofrer
Sem ter que chorar
Sem ter que querer
Sem ter que se dar

Mas tem que sofrer
Mas tem que chorar
Mas tem que querer
Pra poder amar

Ah, mundo enganador
Paz não quer mais dizer amor

Ah, não existe coisa mais triste que ter paz
E se arrepender, e se conformar
E se proteger de um amor a mais

O tempo de amor
É tempo de dor
O tempo de paz
Não faz nem desfaz

Ah, que não seja meu
O mundo onde o amor morreu

Ah, não existe coisa mais triste que ter paz
E se arrepender, e se conformar
E se proteger de um amor a mais
E se arrepender, e se conformar
E se proteger de um amor a mais

Vinícius de Moraes

O paradoxo do avô — A ciência dos super-heróis (Trecho)

    Em "Even the Heir" [Até o herdeiro], publicada em Weird Science nº16, novembro-dezembro de 1952, o personagem principal, Seymour, mistura viagem no tempo e assassinato numa trama bizarra para ficar rico rapidamente. Como se trata de uma história da EC, as coisas não saem do modo como Seymour planejou, e no fim acaba literalmente sem nada. Contudo, a ideia da história nos fornece coisas de sobra para discussão.
    O paradoxo do avô é um dos temas mais populares da viagem no tempo da ficção científica. É também a única objeção à possibilidade de uma verdadeira viagem no tempo. E, estranhamente, a única resposta que parece atender ao dilema do paradoxo do avô está exatamente na ficção científica.
    Em termos mais simples, o paradoxo do avô pergunta: o que aconteceria se um homem construísse uma máquina do tempo, viajasse no passado e matasse seu avô antes de este se casar?
    A resposta mais simples, a utilizada em "Ever the Heir", é que esse homem deixaria de existir. Se ele voltasse no tempo e matasse seu avô antes de este se casar, então seu pai (ou mãe) não teria nascido. Não é preciso dizer que, sem seu pai ter nascido, ele também não teria. Ao matar seu avô, o assassino teria cometido suicídio — ou não?
    Se o nosso assassino matou seu avô antes de este se casar, o assassino nunca existiu. Se ele nunca existiu, como pode então fazer alguma coisa? Se não existiu significa que ele nunca fez nada, portanto seu avô não foi assassinado. Mas, se seu avô não foi assassinado e se casou, o nosso assassino nasceu, e seu avô foi assassinado.
    Em suma, construir uma máquina do tempo e viajar ao passado cria um paradoxo. Os paradoxos do tempo são bem irritantes, pois não têm uma solução simples. Nas mãos de um escritor e lógico habilidoso, os paradoxos do tempo são de enlouquecer. A que talvez seja a melhor a história de viagem no tempo já escrita, "All You Zombies", de Robert A. Heinlein, mostra uma personagem, Jane, que, através de desventuras no tempo, acaba se tornando igualmente seu próprio pai e sua mãe, bem como todos os demais personagens da história.
    Muitos cientistas acham que o paradoxo do avô e paradoxos de viagem no tempo semelhantes demonstram claramente que a viagem no tempo é impossível. Entretanto, há pelo menos uma teoria razoavelmente polêmica que afirma o contrário. Proposta em 1957 por Hugh Everett III e mais recentemente advogada por David Deutsch, essa teoria oferece uma alternativa simples aos paradoxos das viagens no tempo. É conhecida como a Interpretação dos Mundos Múltiplos da Mecânica Quântica.
    De acordo com a teoria de Everett, sempre que existem possibilidades múltiplas em eventos quânticos, o mundo (por "mundo" nos referimos a todo o universo) se divide em muitos mundos, um para cada possibilidade. Cada um desses mundos ou realidades é tão real quanto o original e existe simultaneamente com o primeiro, enquanto permanece inobservado por qualquer um dos outros.
    Em termos simples, a teoria dos mundos múltiplos argumenta que, para cada efeito possível de cada decisão já tomada, existe uma realidade alternativa. Essas realidades alternativas formam o que Everett chamou de multiverso. Por exemplo, enquanto lê este capítulo você pode resolver fazer um lanche. Procura no armário e encontra pipoca e batata frita. Pega a pipoca. Está é uma realidade. Ao mesmo tempo, outra realidade passa a existir, na qual, em vez da pipoca, você pegou a batata frita. Uma terceira realidade também é criada, na qual você pega tanto a pipoca quanto a batata. E, é desnecessário dizer, emerge uma quarta realidade, na qual você muda de ideia e decide não fazer uma boquinha.
    Numa escala maior, existe uma realidade na qual a Alemanha venceu a Segunda Guerra Mundial. Existe outra realidade na qual Hitler não nasceu. Existe uma realidade na qual os Estados Unidos nunca entraram na guerra. Existem realidades para qualquer ramificação da história, não importa se foi tomada uma pequena ou grande decisão. Com cada realidade se ramificando exatamente como a primeira, cada decisão tomada no mundo alternativo leva a mais mundos alternativos. O multiverso de Everett expande-se como os galhos de uma enorme árvore. É uma cosmologia na qual tudo que pode acontecer acontece em algum lugar.
    De que modo o multiverso de Everett se liga aos paradoxos da viagem no tempo? A teoria dos mundos múltiplos postula que sempre que um acontecimento é modificado, uma nova realidade é criada. Se um acontecimento passado é mudado por um viajante do tempo, não é criado nenhum paradoxo, pois o viajante se encontra numa nova realidade que seus atos acabaram de criar. Ele deixou sua realidade original e entrou numa nova.
    Por exemplo, no paradoxo do avô, um homem volta no tempo e mata seu avô. Numa realidade de mundo único, esse assassinato cria um paradoxo. Numa realidade de mundos múltiplos, uma nova realidade é criada pelo assassino. Esta se torna uma realidade na qual o assassino não nasceu. O nosso assassino passou de uma realidade para outra, uma realidade que ele criou. Se ele viajar para o ano do qual partiu, não encontrará vestígios de sua existência. Mas isso não importa, pois ele não veio realmente desse universo, mas de um alternativo. Ele fez com que a sua realidade se ramificasse e, portanto, não há paradoxo possível.
    A teoria dos mundos múltiplos é polêmica e não é aceita por muitos físicos. Nada dela, porém, contradiz qualquer uma das leis básicas do universo. No mínimo, os mundos múltiplos explicam alguns dos problemas mais incômodos que ainda existem na teoria quântica. Trata-se de uma ideia fascinante, principalmente porque tem sido o elemento principal da ficção científica desde que foi escrita a primeira história sobre universo paralelo em 1919. É também matéria-prima dos gibis de ficção científica. Talvez a melhor história de revistas em quadrinhos sobre mundo alternativo tenha sido publicada em Weird Fantasy nº20, de julho-agosto de 1953, intitulada "— For Us the Living" [ — Pór nós, os vivos]. Conta a história de um inocente turista do futuro que queria ver o maior estadista da história, mas, acidentalmente, desencadeia a série de acontecimentos que levam ao assassinato de Abraham Lincoln. É uma perfeita demonstração de como até mesmo as melhores intenções podem causar terríveis resultados quando combinadas com viagem no tempo e realidades alternativas.
     A narrativa serve, principalmente, como um perfeito exemplo de como ciência e ficção científica, personagens e trama, juntamente com um excelente desenho e um senso de estilo podem contar uma ótima história de modo divertido, que é o papel dos gibis.

Capítulo retirado do livro: A ciência dos super-heróis (de Lois Gresh e Robert Weinberg).
Capítulo 10/ Mistérios no espaço: super-heróis da ficção científica/ O paradoxo do avô/ Página 180.

Ler romance altera seu cérebro

 

    Altera para melhor, claro. Ler faz com que seu cérebro fique mais ágil na arte de compreensão do texto e ainda te transporta para dentro do corpo do protagonista. Transporta de verdade, biologicamente, como se você estivesse nadando, correndo ou fugindo.
    Para descobrir, os pesquisadores da Universidade Emory convidaram 19 voluntários para o teste. Durante cinco dias, eles escanearam o cérebro de todos. A partir do sexto dia, os participantes começaram a leitura de Pompeii, de Robert Harris. Ao longo de nove dias todos tinham de ler 30 páginas por noite — e eles eram cobrados: para provar que liam mesmo, respondiam diariamente a questionários sobre a obra do autor inglês. E, todas as manhãs, eles tinham de ir até o laboratório para tirar imagens do cérebro. Ao fim do período de leitura, os cientistas ainda pediram a eles para que voltassem por mais cinco dias, para escanear outra vez o cérebro.
    Bem, a maratona de exames de ressonância magnética serviu para mostrar o que acontece no cérebro de quem lê. Há um aumento entre as conexões no córtex temporal esquerdo, associado à capacidade de compreensão da linguagem, Mudanças em outras conexões sugerem ainda que o cérebro do leitor, durante um pensamento sobre a ação (durante ou após a leitura de um trecho), imite essa conectividade, como se a ação real. Ou seja, o simples fato de pensar em nadar, correr, ou pular pode desencadear as mesmas conexões neurológicas que uma atividade física.
    "As alterações neuronais que descobrimos associadas com a sensação física e os sistemas de movimento sugerem que ler um romance pode transportar você para o corpo do protagonista", explica Gregory Berns, um dos autores da pesquisa. "Nós já sabíamos que boas histórias podiam colocar você no corpo de alguém, no sentido figurado. Agora estamos vendo que alguma coisa pode estar acontecendo biologicamente".
    Os pesquisadores só não sabem dizer por quanto tempo, após o fim da leitura, esse efeitos permanecem. Pra não perder nada, melhor, então, ler um livro atrás do outro.


Fonte: Super Interessante - Ciência maluca - Carol Castro

Entre Demônios — Rafael Valdes (Citação)

 
   "Nas ruas, eu vejo vultos, vejo pessoas que parecem não estar lá, como se não fossem de carne e osso, vejo gente que um segundo depois não está mais lá, escuto passos me seguindo, mas não vejo de quem são.

    Os passos, os seres voadores e os vultos se tornam mais frequentes, começo a me sentir cercado. As luzes da rua piscam, os intervalos de luzes acesas diminui e os momentos de escuridão aumentam, até que estou no completo breu, a luz da lua parece insuficiente para clarear, chego a sentir suspiros de terror a alguns centímetros do meu ouvido, tenho a impressão de ver rostos demoníacos aparecer e desaparecer na escuridão, escuto vozes que sussurram sem dizer nada que seja compreensível, percebo que mãos quentes me tocam, quentes como água morna que por pouco não me queimam. A escuridão é interrompida por uma luz alaranjada como fogo, na minha frente surge uma criatura, só vejo sua silhueta em meio às chamas, vejo asas e chifres, algo imenso, da altura de um poste de luz, algo que não teria como estar escondido.

    Eu corro, não sei para onde, vejo as criaturas demoníacas saindo da frente, vejo os rostos monstruosos com mais frequência quanto maior a velocidade que corro, sinto algo segurando meu pé e me derrubando no chão, minha cabeça bate e dói, isso não parece apenas um pesadelo, meus olhos se fecham aos poucos quando vejo uma sombra de algo parecido com um homem se aproximando."

(Trecho do livro: Entre Demônios, por Rafael Valdes)



    Achei esse site: Entre Demônios, nele o Rafael Valdes fala sobre a criação independente dele, o livro Entre Demônios. 

Antimatéria

    1 grama de antimatéria seria capaz de abastecer a cidade de São Paulo durante 24h ou mover um carro por 10 mil km.

O que é antimatéria?
    É o inverso do que é a matéria. Ela é composta de antipartículas, que possuem a mesma característica das partículas (massa e rotação), mas com carga elétrica contrária. É o caso do pósitron, também conhecido como antielétron, que tem carga positiva. Ou do antipróton, que, diferente do próton, é negativo. O conceito de antimatéria foi proposto pelo físico inglês Paulo Dirac em 1928. Ele revisou a equação de Einstein, considerando que a massa também poderia ser negativa. Sendo assim, a fórmula ficaria: E=+ou-mc2. Com base na teoria, a comunidade científica passou a estudar o tema mais a fundo e descobriu uma potente fonte de energia, com 100% de aproveitamento. Hoje, o grande desafio é conseguir produzi-la em grande quantidade - já que ela não é encontrada na Terra.

    A explosão causada pelo encontro da matéria e da antimatéria gera energia em forma de raio gama - que possui 10 mil vezes mais energia que o raio solar e o raio X.

Elogio da Loucura — Erasmo de Roterdã (Citação)

    "Todas as coisas humanas têm dois aspectos... para dizer a verdade todo este mundo não é senão uma sombra e uma aparência; mas esta grande e interminável comédia não pode representar-se de um outro modo. Tudo na vida é tão obscuro, tão diverso, tão oposto, que não podemos nos assegurar de nenhuma verdade."

               
                   Elogio da Loucura (Erasmo de Roterdã)

O deus que não estava lá - The god who wasn't there


    O Deus que não estava lá (The God Who Wasn't There, 2005) é um documentário de Brian Flemming incluindo, entre outros, Richard Dawnkins, que objetiva questionar os dogmas do Cristianismo. Brian foi levado a estudar em um colégio religioso por seus pais, até então, tempos depois começar a perceber que estava sendo levado a acreditar em fé e não em evidências. Talvez por isso Brian sentiu-se motivado a criar o documentário, como forma de tentar abrir os olhos de pais e crianças que são condicionados a se guiarem pela fé, sem questionar as evidências.

    Essa é uma realidade ainda muito comum nos EUA que assim como o Brasil conta com um eleitorado religioso significativo, o que se constitui como um perigo ao bem-estar de uma nação. A escola que Brian estudou ainda existe e ele mesmo vai até o diretor da instituição para questioná-lo, uma das melhores partes do documentário. Não se trata de nenhuma grande produção cinematográfica, as imagens muitas vezes chegam a ficar uma chatice, aquele que quiser apreciar tem que estar ligado no conteúdo que o documentário deseja passar. Do restante o documentário segue através de entrevistas com historiadores, cientistas e religiosos. A idéia norte do documentário é levar o espectador acostumado a acreditar na fé a questionar-se: e se eu estiver errado? -- Ao longo, muitos cristãos são entrevistados e deixam evidente que simplesmente acreditam porque são levados a acreditar que essa é a verdade, pois a maioria deles não sabem dizer sobre quando Jesus Cristo possivelmente nasceu, onde, os costumes da época, etc. Além de dizer que Jesus é o "Salvador".

Alive — Korn


I am alive, I will never run away
Places inside, my heart screams inside with pride
Once I cried, now I wipe away the tears
Once I died, now I'm alive
        ...
Eu estou vivo, eu nunca mais irei fugir
Em meu interior, meu coração grita com orgulho
Uma vez eu chorei, agora eu enxugo as lágrimas
Uma vez eu morri, agora eu estou vivo

Banda (Korn)
Música: (Alive)

Bukowski


“Observava as pessoas à distância, como numa peça de teatro. Apenas eles estavam no palco e eu era plateia de um homem só.”

              (Bukowski)


Leonor — Edgar Allan Poe


    "Os homens chamaram-me louco; mas ainda não está resolvido o problema, se a loucura é ou não a suprema inteligência, se muito do que é glorioso, ­se tudo o que é profundo, não tem a sua origem numa doença do pensamento, ­em modalidades do espírito exaltadas a custa das faculdades gerais. Aqueles que sonham de dia sabem muitas coisas que escapam àqueles que somente de noite sonham. Nas suas vagas visões obtêm relances de eternidade e, quando despertam, estremecem ao verem que estiveram mesmo à beira do grande segredo."

                     Leonor (Edgar Allan Poe)


Inconstância das coisas do mundo — Gregório de Matos


Nasce o sol e não dura mais que um dia.
Depois da luz, se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.

Porém, se acaba o sol, porque nascia?
Se é tão formosa a luz, porque não dura?
Como a beleza assim se trasfigura?
Como o gosto da pena assim se fia? 

Mas no sol e na luz falta a firmeza;
Na formosura, não se dê constância
E, na alegria, sinta-se tristeza.

Começa o mundo, enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza:
A firmeza somente na inconstância.

      Inconstância das coisas do mundo (Gregório de Matos)


Cartas de amor a Heloísa — Graciliano Ramos


Dizes que brevemente
serás a metade de minha alma.

A metade?
Brevemente?
Não: já agora és,
não a metade, mas toda.

Dou-te a minha alma inteira,
deixe-me apenas uma pequena parte
para que eu possa existir por algum tempo
e adorar-te.

        Cartas de amor a Heloísa (Graciliano Ramos)


Memória - Carlos Drummond de Andrade


Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.

                      Carlos Drummond de Andrade

Mudam-se os tempos - Luís de Camões


Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem (se algum houve), as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria,
e, enfim, converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
outra mudança faz de mor espanto,
que não se muda já como soía.

(Luís de Camões)


Promessas - Epitácio Mendes Silva


Promessas, guerras, conflitos,
 fazem a hora da existência 
 e a certeza é uma só:
 o amanhã será sombrio! 

 Promessa que não se cumpre
 vai matando a esperança 
 e a guerra que busca a paz
 traz a insegurança da paz.

 Felizes os loucos e inocentes 
 que vivem das fantasias
 e que das promessas não conhecem
 o lado das traições. 

Epitácio Mendes Silva

Se eu me precipitasse — Paulo de Toledo


se eu me precipitasse
em um precipício
e esse fosse a princípio
uma boca que falasse

e essa decidisse
pôr fim à queda e à sua falácia
e predissesse
qual um vate que musas invocasse

meu destino
e o mais que me coubesse
eu principiaria a rir
como se risse
fosse o passe de mágica
que transfigurasse
o que parecia inevitavelmente trágico
na mais despretensiosa tolice

Paulo de Toledo


Amor — Álvares de Azevedo


Amemos! quero de amor
Viver no teu coração!
Sofrer e amar essa dor
Que desmaia de paixão!
Na tu'alma, em teus encantos
E na tua palidez
E nos teus ardentes prantos
Suspirar de languidez!

Quero em teus lábios beber
Os teus amores do céu!
Quero em teu seio morrer
No enlevo do seio teu!
Quero viver d'esperança!
Quero tremer e sentir!
Na tua cheirosa trança
Quero sonhar e dormir!

Vem, anjo, minha donzela,
Minh'alma, meu coração...
Que noite! que noite bela!
Como é doce a viração!
E entre os suspiros do vento
Da noite ao mole frescor,
Quero viver um momento,
Morrer contigo de amor!

Álvares de Azevedo



Um desejo - Gonçalves Ribeiro


O homem cansado,
sentado à mesa,
sozinho em seu mundo,
faz distraidamente um barquinho de papel.

E o barquinho vai crescendo, crescendo
até transformar-se num soberbo navio.
O homem embarca apressado
e o navio parte vagarosamente,
deixando o tédio sobre a mesa.

E o homem tem agora
uma expressão aventureira.
Suas mãos transformaram-se em mares
para a viagem impossível
do barquinho de papel.


(Gonçalves Ribeiro)



Mundo criança — Gonçalves Ribeiro

Aos olhos da criança,
o mundo parece
um brinquedo mágico.
Promessa de alegria,
certeza de prazer.

Magia que está nos olhos
que conhecem
o segredo do sonho.
Olhos que acreditam,
que confiam,
que esperam.

Ah! se o mundo se transformasse
no mundo que vive dentro
dos olhos da criança!


Gonçalves Ribeiro




A efêmera eternidade do sonho — Fagundes Varela


Uma triste cabeça de mármore, rolando
pela estreita ladeira da mansão em ruína,
imobiliza-se entre a relva silenciosa
do abandono.

Na expressão de pedra, os olhos fitam
o escombros que se iluminam
com o esplendor da manhã.
Resto de estátua, resto de sonho...

Olhos que parecem surpresos
diante da ruína do solar
e diante da própria ruína...
E traduzem o engano
das mãos do artista
que pensou gravar na pedra
a eternidade do sonho.


Fagundes Varela



Sextilhas - Fagundes Varela


Amo o cantor solitário
Que chora no campanário
Do mosteiro abandonado,
E  a trepadeira espinhosa
Que se abraça caprichosa
À forca do condenado.

Amo os noturnos lampírios
Que giram, errantes círios,
Sobre o chão dos cemitérios,
E ao clarão de tredas luzes
Fazem destacar as cruzes
De seu fundo de mistérios.

Amo as tímidas aranhas
Que, lacerando as entranhas,
Fabricam dourados fios,
E com seus leves tecidos
Dos tugúrios esquecidos
Cobrem os muros sombrios.

Amo a lagarta que dorme,
Nojenta, lânguida, informe,
Por entre as ervas rasteiras,
E as rãs que os pauis habitam,
E os moluscos que palpitam
Sob as vagas altaneiras!

Amo-os, porque todo mundo
Lhes volta um ódio profundo,
Despreza-os sem compaixão!
Porque todos desconhecem
As dores que eles padecem
No meio da criação!

(Fagundes Varela)

Surpresa - Fagundes Varela


Chegou a bela estação
Em que rebentam as flores,
Também no meu coração
Rebentam novos ardores.

Busquei minha caprichosa
Na sala, alcova e cozinha:
Foi colher algum rosa
Talvez em lembrança minha.

▬ Pois bem, falei eu comigo,
Surpresas quiseste, amor?
Vou mostrar como consigo
Trazer a mais linda flor!



Corro, corro a largos passos,

Busco em vão um bogari!...
Mas ela voa a meus braços
E diz alegre: "eis-me aqui"!


(Fagundes Varela)



Novamente - Gonçalves Ribeiro


Ah! esse vento frio de outono,
que desengana as folhas das árvore...
Folhas que se amesquinham
no desprezo das calçadas...

A árvore vai ficar só.
Vai ficar só novamente
na solidão do abandono.
Porém, a vida persiste
dentro da morte ilusória.
E novamente
a árvore sonhará folhas
para que não se eternize
a aparência da morte.

No outono de esperanças,
a alma também se desfolha,
e parece morta.
Porém somente repousa
se a seiva dos sonhos
permanece viva
sob a esterilidade da descrença.


(Gonçalves Ribeiro)



Meu anjo - Álvares de Azevedo


Meu anjo tem o encanto, a maravilha,
Da espontânea canção dos passarinhos;
Tem os seios tão alvos, tão macios
Como o pêlo sedoso dos arminhos.

Triste de noite na janela a vejo
E de seus lábios o gemido escuto.
É leve a criatura vaporosa
Como a froixa fumaça de um charuto.

Parece até que sobre a fronte angélica
Um anjo lhe depôs coroa e nimbo...
Formosa a vejo assim entre meus sonhos
Mais bela no vapor do meu cachimbo.

Como o vinho espanhol, um beijo dela
Entorna ao sangue a luz do paraíso.
Dá morte num desdém, num beijo vida,
E celestes desmaios num sorriso!

Mas quis a minha sina que seu peito
Não batesse por mim nem um minuto,
E que ela fosse leviana e bela
Como a leve fumaça de um charuto!

(Álvares de Azevedo)

Anímico - Bruna Lombardi


Nossa história está escrita
dentro de cada célula
só não sabemos lê-la
ainda

dentro de nós existe
a resposta que buscamos
só que não a procuramos
bem

o nosso lado mais sábio
ainda se esconde da gente
e vamos nascer novamente
até saber


           (Bruna Lombardi)

Dispersão - Mário de Sá Carneiro


Perdi-me dentro de mim 
Porque eu era labirinto 
E hoje, quando me sinto.
É com saudades de mim.

Passei pela minha vida 
Um astro doido a sonhar. 
Na ânsia de ultrapassar, 
Nem dei pela minha vida... 

Para mim é sempre ontem,
Não tenho amanhã nem hoje: 
O tempo que aos outros foge 
Cai sobre mim feito ontem.

(O Domingo de Paris 
Lembra-me o desaparecido 
Que sentia comovido 
Os Domingos de Paris: 

Porque um domingo é família,
É bem-estar, é singeleza, 
E os que olham a beleza 
Não têm bem-estar nem família).

O pobre moço das ânsias... 
Tu, sim, tu eras alguém! 
E foi por isso também 
Que me abismaste nas ânsias.

A grande ave doirada
Bateu asas para os céus, 
Mas fechou-as saciada 
Ao ver que ganhava os céus.

 Como se chora um amante,
 Assim me choro a mim mesmo:
 Eu fui amante inconstante 
 Que se traiu a si mesmo.

Não sinto o espaço que encerro 
Nem as linhas que protejo: 
Se me olho a um espelho, erro - 
Não me acho no que projeto. 

Regresso dentro de mim
Mas nada me fala, nada! 
Tenho a alma amortalhada,
Sequinha, dentro de mim. 

Não perdi a minha alma, 
Fiquei com ela, perdida. 
Assim eu choro, da vida, 
A morte da minha alma.

Saudosamente recordo 
Uma gentil companheira 
Que na minha vida inteira
Eu nunca vi... Mas recordo 

A sua boca doirada
E o seu corpo esmaecido,
Em um hálito perdido 
Que vem na tarde doirada. 

(As minhas grandes saudades 
São do que nunca enlacei. 
Ai, como eu tenho saudades 
Dos sonhos que sonhei!... )

E sinto que a minha morte - 
Minha dispersão total -
Existe lá longe, ao norte, 
Numa grande capital. 

Vejo o meu último dia 
Pintado em rolos de fumo, 
E todo azul-de-agonia 
Em sombra e além me sumo. 

Ternura feita saudade, 
Eu beijo as minhas mãos brancas...
Sou amor e piedade 
Em face dessas mãos brancas...

Tristes mãos longas e lindas 
Que eram feitas pra se dar... 
Ninguém mas quis apertar... 
Tristes mãos longas e lindas...

Eu tenho pena de mim,
Pobre menino ideal... 
Que me faltou afinal?
Um elo? Um rastro?... Ai de mim!...

Desceu-me n'alma o crepúsculo; 
Eu fui alguém que passou. 
Serei, mas já não me sou;
Não vivo, durmo o crepúsculo.

Álcool dum sono outonal 
Me penetrou vagamente 
A difundir-me dormente
Em uma bruma outonal. 

Perdi a morte e a vida,
E, louco, não enlouqueço...
A hora foge vivida 
Eu sigo-a, mas permaneço...

Castelos desmantelados,
Leões alados sem juba.


(Mário de Sá Carneiro)


Os dois lados — Murilo Mendes


Deste lado tem meu corpo
tem o sonho
tem a minha namorada na janela
tem as ruas gritando de luzes e momentos
tem meu amor tão lento
tem o mundo batendo na minha memória 
tem o caminho pro trabalho.

Do outro lado tem outras vidas vivendo
da minha vida
tem pensamentos sérios me esperando na
sala de visitas
tem minha noiva definitiva me esperando
com flores na mão,
tem a morte, as colunas da ordem e da desordem.


(Murilo Mendes)




Dialética — Vinícius de Moraes


É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz

Mas acontece que eu sou triste...


(Vinícius de Moraes)


Soneto da separação - Vinícius de Moraes


De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.


(Vinícius de Moraes)

Soneto a quatro mãos - Vinícius de Moraes


Tudo de amor que existe em mim foi dado.
Tudo que fala em mim de amor foi dito.
Do nada em mim o amor fez o infinito
Que por muito tornou-me escravizado.

Tão pródigo de amor fiquei coitado
Tão fácil para amar fiquei proscrito.
Cada voto que fiz ergueu-se em grito
Contra o meu próprio dar demasiado.

Tenho dado de amor mais que coubesse
Nesse meu pobre coração humano
Desse eterno amor meu antes não desse.

Pois se por tanto dar me fiz engano
Melhor fora que desse e recebesse
Para viver da vida o amor sem dano.


(Vinícius de Moraes )



Nós e natureza - Epitácio Mendes Silva


Cores de todas as manhãs,
manhãs de todas as cores.
Dia de todas as luzes,
luzes de todos os dias.
Noite de todas as luzes,
luzes de todas as noites. 
Gotas de orvalho das flores 
e flores com gotas de orvalho.
Pássaros que os dias festejam 
e dias que festejam os pássaros. 
Céu de todos os azuis
e azuis de todos os céus. 
Cristalinas águas das fontes 
e fontes de águas cristalinas. 
Mundo de todos os sons 
e sons de todos os mundos. 
Dizei-me oh, coisas divinais:
por que em tudo isso me reflito
e tudo me faz pensar em ti ?...


(Epitácio Mendes Silva)



Carolina — Machado de Assis


Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.

Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda a humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs o mundo inteiro.

Trago-te flores - restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados.

Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.


(Machado de Assis)


Deserto - Paulo de Toledo


minha sombra caminha
adiante de mim

sigo-a sequioso
com meu séquito de sonhos

lá atrás o sol
ao traduzir-me desola-se


(Paulo de Toledo)


Pantera - Carlos Newton Júnior


Jamais a vi verdadeira
— o hálito quente e o frio olhar —
para além das rijas barras
que mundo nenhum retém:

encontrei-a nas palavras
precisas, que são ferro e pedra,
sangue vivo, força oculta,
veludo quase matéria.

E eram tantas as panteras
nas diversas traduções
do mesmíssimo poema.

Em todas, o vulto negro
num silêncio ditirambo
com seus coturnos de seda.


(Carlos Newton Júnior)



Névoas - Fagundes Varela


Nas horas tardias que a noite desmaia
Que rolam na praia mil vagas azuis,
E a lua cercada de pálida chama
Nos mares derrama seu pranto de luz,

Eu vi entre os flocos de névoas imensas,
Que em grutas extensas se elevam no ar,
Um corpo de fada — sereno, dormindo,
Tranqüila sorrindo num brando sonhar.

Na forma de neve — puríssima e nua —
Um raio da lua de manso batia,
E assim reclinada no túrbido leito
Seu pálido peito de amores tremia.

Oh! filha das névoas! das veigas viçosas,
Das verdes, cheirosas roseiras do céu,
Acaso rolaste tão bela dormindo,
E dormes, sorrindo, das nuvens no véu?

O orvalho das noites congela-te a fronte,
As orlas do monte se escondem nas brumas,
E queda repousas num mar de neblina,
Qual pérola fina no leito de espumas!

Nas nuas espáduas, dos astros dormentes
— Tão frio — não sentes o pranto filtrar?
E as asas, de prata do gênio das noites
Em tíbios açoites a trança agitar?

Ai! vem, que nas nuvens te mata o desejo
De um férvido beijo gozares em vão!...
Os astros sem alma se cansam de olhar-te,
Nem podem amar-te, nem dizem paixão!

E as auras passavam — e as névoas tremiam
— E os gênios corriam — no espaço a cantar,
Mas ela dormia tão pura e divina
Qual pálida ondina nas águas do mar!

Imagem formosa das nuvens da Ilíria,
— Brilhante Valquíria — das brumas do Norte,
Não ouves ao menos do bardo os clamores,
Envolto em vapores — mais fria que a morte!

Oh! vem; vem, minh'alma! teu rosto gelado,
Teu seio molhado de orvalho brilhante,
Eu quero aquecê-los no peito incendido,
— Contar-te ao ouvido paixão delirante!...

Assim eu clamava tristonho e pendido,
Ouvindo o gemido da onda na praia,
Na hora em que fogem as névoas sombrias
– Nas horas tardias que a noite desmaia.

E as brisas da aurora ligeiras corriam.
No leito batiam da fada divina...
Sumiram-se as brumas do vento à bafagem,
E a pálida imagem desfez-se em — neblina!


(Fagundes Varela)

Ápice - Mário de Sá-Carneiro


O raio do sol da tarde  
Que uma janela perdida
Refletiu
Num instante indiferente — 
Arde, 
Numa lembrança esvaída, 
À minha memória de hoje 
Subitamente...

Seu efêmero arrepio 
Ziguezagueia, ondula, foge, 
Pela minha retentiva...
— E não poder adivinhar
Porque mistério se me evoca
Esta ideia fugitiva,
Tão débil que mal me toca!...

— Ah, não sei porquê, mas certamente 
Aquele raio cadente 
Alguma coisa foi na minha sorte 
Que a sua projeção atravessou... 

Tanto segredo no destino de uma vida...

É como a ideia de Norte,
Preconcebida, 
Que sempre me acompanhou...


(Mário de Sá-Carneiro )

Horas vivas - Machado de Assis


Noite: abrem-se as flores . . .
Que esplendores!
Cíntia sonha seus amores
Pelo céu.
Tênues as neblinas
Às campinas
Descem das colinas,
Como um véu.

Mãos em mãos travadas,
Animadas,
Vão aquelas fadas
Pelo ar;
Soltos os cabelos,
Em novelos,
Puros, louros, belos,
A voar.

— "Homem, nos teus dias
Que agonias,
Sonhos, utopias,
Ambições;
Vivas e fagueiras,
As primeiras,
Como as derradeiras
Ilusões!

— "Quantas, quantas vidas
Vão perdidas,
Pombas mal feridas
Pelo mal!
Anos após anos,
Tão insanos,
Vêm os desenganos
Afinal.

— "Dorme: se os pesares
Repousares,
Vês? — por estes ares
Vamos rir;
Mortas, não; festivas,
E lascivas,
Somos — horas vivas
De dormir. —"


(Machado de Assis)

Menina e moça - Machado de Assis


Está naquela idade inquieta e duvidosa,
Que não é dia claro e é já o alvorecer;
Entreaberto botão, entrefechada rosa,
Um pouco de menina e um pouco de mulher.

Às vezes recatada, outras estouvadinha,
Casa no mesmo gesto a loucura e o pudor;
Tem cousas de criança e modos de mocinha,
Estuda o catecismo e lê versos de amor.

Outras vezes valsando, o seio lhe palpita,
De cansaço talvez, talvez de comoção.
Quando a boca vermelha os lábios abre e agita,
Não sei se pede um beijo ou faz uma oração.

Outras vezes beijando a boneca enfeitada,
Olha furtivamente o primo que sorri;
E se corre parece, à brisa enamorada,
Abrir as asas de um anjo e tranças de uma huri.

Quando a sala atravessa, é raro que não lance
Os olhos para o espelho; e raro que ao deitar
Não leia, um quarto de hora, as folhas de um romance
Em que a dama conjugue o eterno verbo amar.

Tem na alcova em que dorme, e descansa de dia,
A cama da boneca ao pé do toucador;
Quando sonha, repete, em santa companhia,
Os livros do colégio e o nome de um doutor.

Alegra-se em ouvindo os compassos da orquestra;
E quando entra num baile, é já dama do tom;
Compensa-lhe a modista os enfados da mestra;
Tem respeito a Geslin, mas adora a Dazon.

Dos cuidados da vida o mais tristonho e acerbo
Para ela é o estudo, excetuando-se talvez
A lição de sintaxe em que combina o verbo
To love, mas sorrindo ao professor de inglês.

Quantas vezes, porém, fitando o olhar no espaço,
Parece acompanhar uma etérea visão;
Quantas cruzando ao seio o delicado braço
Comprime as pulsações do inquieto coração!

Ah! se nesse momento, alucinado, fores
Cair-lhe aos pés, confiar-lhe uma esperança vã,
Hás de vê-la zombar de teus tristes amores,
Rir da tua aventura e contá-la à mamã.

É que esta criatura, adorável, divina,
Nem se pode explicar, nem se pode entender:
Procura-se a mulher e encontra-se a menina,
Quer-se ver a menina e encontra-se a mulher!


(Machado de Assis)

Por Mim - Álvares de Azevedo


Teus negros olhos uma vez fitando 
Senti que luz mais branda os acendia, 
Pálida de langor, eu vi, te olhando, 
Mulher do meu amor, meu serafim, 
Esse amor que em teus olhos refletia... 
Talvez! - era por mim? 

Pendeste, suspirando, a face pura, 
Morreu nos lábios teus um ai perdido... 
Tão ébrio de paixão e de ventura! 
Mulher de meu amor, meu serafim, 
Por quem era o suspiro amortecido? 
Suspiravas por mim?...

Mas... eu sei!... ai de mim? Eu vi na dança 
Um olhar que em teus olhos se fitava... 
Ouvi outro suspiro... d´esperança! 
Mulher do meu amor, meu serafim, 
Teu olhar, teu suspiro que matava... 
Oh! não eram por mim.


(Álvares de Azevedo)

O fogo que na branda cera ardia - Luís de Camões


O fogo que na branda cera ardia,
Vendo o rosto gentil que na alma vejo.
Se acendeu de outro fogo do desejo,
Por alcançar a luz que vence o dia.

Como de dois ardores se incendia,
Da grande impaciência fez despejo,
E, remetendo com furor sobejo,
Vos foi beijar na parte onde se via.

Ditosa aquela flama, que se atreve
Apagar seus ardores e tormentos
Na vista do que o mundo tremer deve!

Namoram-se, Senhora, os Elementos
De vós, e queima o fogo aquela nave
Que queima corações e pensamentos.


(Luís de Camões)

Soneto - Álvares de Azevedo


Pálida à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!

Era a virgem do mar, na escuma fria
Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d'alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!

Era a mais bela! Seio palpitando...
Negros olhos as pálpebras abrindo...
Formas nuas no leito resvalando...

Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti as noites eu velei chorando,
Por ti nos sonhos morrerei sorrindo!


(Álvares de Azevedo )