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Amor — Álvares de Azevedo


Amemos! quero de amor
Viver no teu coração!
Sofrer e amar essa dor
Que desmaia de paixão!
Na tu'alma, em teus encantos
E na tua palidez
E nos teus ardentes prantos
Suspirar de languidez!

Quero em teus lábios beber
Os teus amores do céu!
Quero em teu seio morrer
No enlevo do seio teu!
Quero viver d'esperança!
Quero tremer e sentir!
Na tua cheirosa trança
Quero sonhar e dormir!

Vem, anjo, minha donzela,
Minh'alma, meu coração...
Que noite! que noite bela!
Como é doce a viração!
E entre os suspiros do vento
Da noite ao mole frescor,
Quero viver um momento,
Morrer contigo de amor!

Álvares de Azevedo



Meu anjo - Álvares de Azevedo


Meu anjo tem o encanto, a maravilha,
Da espontânea canção dos passarinhos;
Tem os seios tão alvos, tão macios
Como o pêlo sedoso dos arminhos.

Triste de noite na janela a vejo
E de seus lábios o gemido escuto.
É leve a criatura vaporosa
Como a froixa fumaça de um charuto.

Parece até que sobre a fronte angélica
Um anjo lhe depôs coroa e nimbo...
Formosa a vejo assim entre meus sonhos
Mais bela no vapor do meu cachimbo.

Como o vinho espanhol, um beijo dela
Entorna ao sangue a luz do paraíso.
Dá morte num desdém, num beijo vida,
E celestes desmaios num sorriso!

Mas quis a minha sina que seu peito
Não batesse por mim nem um minuto,
E que ela fosse leviana e bela
Como a leve fumaça de um charuto!

(Álvares de Azevedo)

Por Mim - Álvares de Azevedo


Teus negros olhos uma vez fitando 
Senti que luz mais branda os acendia, 
Pálida de langor, eu vi, te olhando, 
Mulher do meu amor, meu serafim, 
Esse amor que em teus olhos refletia... 
Talvez! - era por mim? 

Pendeste, suspirando, a face pura, 
Morreu nos lábios teus um ai perdido... 
Tão ébrio de paixão e de ventura! 
Mulher de meu amor, meu serafim, 
Por quem era o suspiro amortecido? 
Suspiravas por mim?...

Mas... eu sei!... ai de mim? Eu vi na dança 
Um olhar que em teus olhos se fitava... 
Ouvi outro suspiro... d´esperança! 
Mulher do meu amor, meu serafim, 
Teu olhar, teu suspiro que matava... 
Oh! não eram por mim.


(Álvares de Azevedo)

Soneto - Álvares de Azevedo


Pálida à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!

Era a virgem do mar, na escuma fria
Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d'alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!

Era a mais bela! Seio palpitando...
Negros olhos as pálpebras abrindo...
Formas nuas no leito resvalando...

Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti as noites eu velei chorando,
Por ti nos sonhos morrerei sorrindo!


(Álvares de Azevedo )